A reabilitação neuropsicológica corresponde a um complexo conjunto de procedimentos e de técnicas que visam a melhorar ou a aprimorar os processos cognitivos, comportamentais e emocionais, possibilitando ao paciente uma melhor qualidade de vida.
Após o processo de avaliação neuropsicológica, em que se identifica o perfil cognitivo do paciente (habilidades e dificuldades) e se compreende o impacto dos déficits em sua funcionalidade será realizada a elaboração da intervenção cognitiva mais adequada para aquela criança ou adolescente, as metas e atividades propostas são definidas e estabelecidas de forma individualizada.
Para que a reabilitação tenha maior eficácia e resultados é necessário que o terapeuta trabalhe em conjunto com a criança, sua família e a escola para compensar, restaurar ou potencializar os processos cognitivos e comportamentais.
Atualmente, há diversas nomenclaturas para designar e especificar este trabalho de intervenção que dependerá do quadro clínico (estrutural ou funcional) e do objetivo da reabilitação (preventivo ou remediativo).
Quando a intervenção envolve reabilitar, remediar os processos cognitivos que foram prejudicados após lesão cerebral, o termo sugerido é reabilitação.
Em situações em que os déficits cognitivos não surgiram em decorrência de um quadro neurológico, mas sim, estão mais associados à menor oportunidade de estimulação cognitiva natural ou a alterações do desenvolvimento, chama-se processo de intervenção de habilitação.
Na perspectiva neuropsicológica, na habilitação, geralmente relacionada a crianças com transtornos do neurodesenvolvimento, propõe-se a auxiliar na aquisição e no desenvolvimento de habilidades que não foram ainda adquiridas pelo indivíduo ou que se encontram com desempenho abaixo em suas tarefas diárias frente à demanda do ambiente.
Tanto a reabilitação como a habilitação são intervenções remediativas. Há também intervenções com o objetivo de promover estimulação cognitiva em períodos um pouco antes ou no momento em que se apresenta janelas de oportunidade para o desenvolvimento, chamadas de intervenções precoce-preventivas.
Uma variável importante para a o planejamento da intervenção é a idade da criança.
É importante sempre considerar o que é esperado, em termos cognitivos, para cada faixa etária, para proporcionar intervenções adequadas para cada caso.
Além disso, sabe-se que a escolaridade da criança, assim como a escolaridade dos pais (Ardila, Rosselli, Matute & Guajardo, 2005), o tipo de escola (Casarin, Wong, Parente, Salles, & Fonseca, 2012), e o nível socioeconômico (Farah et al., 2006; Piccolo, Sbicigo, Grassi-Oliveira, & Salles, 2014) também são variáveis necessárias a se considerar uma vez que influenciam diretamente no desenvolvimento cognitivo.
Há estudos mostrando que quando a família é presente ajuda a criança a melhorar suas habilidades, apoiando-a, incentivando-a o que traz benefícios significativos para o funcionamento comportamental e emocional da criança (Taylor et al., 2012; Yeates, Taylor,Walz, Stancin, & Wade, 2010).
Outro aspecto da reabilitação com crianças é a utilização de recursos lúdicos durante o processo, portanto, indica-se no início do tratamento que o terapeuta conheça as preferencias de cada criança para que se utilize de materiais (brincadeiras, desenhos, livros) com as quais se identifica e desta forma, aumentar a motivação, gerando maior engajamento e colaboração.
Algumas técnicas que podem ser utilizadas na reabilitação neuropsicológica:
Psicoeducação:
Visa educar paciente e familiares acerca das dificuldades e habilidades, curso da doença, forma de tratamento, com o objetivo de proporcionar maior conscientização e aceitação dos déficits. Podem ser utilizados folhetos, livros, filmes, etc.
Reabilitação ou Habilidades das funções cognitivas por treinos
Visa “treinar”, estimular as funções cognitivas e gerar novos aprendizados por meio de exercícios específicos.
Estimular as funções cognitivas por meio de jogos, exercícios e materiais lúdicos. Podem ser utilizados jogos de tabuleiro (dobble, lince, córtex, eureka, fantasma blitz, dentre outros), computadorizados, atividades de lápis e papel ou atividades disponíveis na internet.
Ao desenvolver ou optar por determinadas atividades é importante utilizar is recursos de forma sequencial, repetidas vezes, de firma gradual, e que o nível de dificuldades e complexidade aumente.
Atualmente existe uma gama de programas como o cérebro nosso de cada dia, afinando o cérebro, lumosity. Um dos programas computadorizado que possui estudos comprovando sua efetividade é o treino computadorizado de memória operacional Cogmed.
Outro exemplo de treino é o Pay Attention! Que foi desenvolvido para crianças de 4 a 14 anos de idade com o objetivo de estimular a atenção sustentada, alternada, dividida e seletiva.
Há também softwares específicos e desenvolvidos no Brasil destinados a estimular a habilidade auditiva:
- Pedro na Casa Mal Assombrada, consciência fonológica
- Pedro no Parque de Diversões e as funções neurocognitivas de um modo mais global
- Pedro no Acampamento (atenção, percepção, funções executivas, linguagem oral e escrita).
Estratégias comportamentais:
Tem como objetivo diminuir o impacto funcional dos prejuízos cognitivos. São exemplos de estratégias o uso de agenda e calendário para organizar e anotar compromissos da escola e sociais, dentre outros.
Adaptação ao ambiente:
Manejo de estímulos e dinâmicas ambientais podem ser úteis para otimizar outras intervenções. Ex: quando uma criança apresentada dificuldades de atenção e concentração, pode-se propor diminuir a quantidade de objetos no local de estudo, dentre outros.
Embora haja diversos materiais e estratégias para o trabalho, é necessário antes o planejamento, embasado em resultados de avaliações feitas cuidadosamente.
Fontes consultadas:
Ardila, A., Rosselli, M., Matute, E., & Guajardo, S. (2005). The influence of the parentes educational level on the development of executive functions. Developmental Neuropsychology, 28(1), 539-560.
Casarin, F.S.; Wong, C.E.I., Parente, M.A.M.P., Salles, J.F., & Fonseca, R.P. (2012). Comparison of neuropsychological performance between students from public and private Brazilian schools. Spanish Journal of Psychology, 15(3), 942-951.
Dias, N.M., Cardoso, C.O. (2019). Intervenção Neuropsicológica infantil: da estimulação precoce-preventiva à reabilitação. São Paulo: Pearson Clinical Brasil.
Farah, M.J., Shera, D.M., Savage, J.H., Betancourt, L., Gianetta, J.M., Brodsky, N.L., …, & Hurt, H. (2006). Childhood poverty: specific associations wiht neurocognitive development. Brain Research, 1110, 166-174.
Piccolo, L.R., Sbicigo, J.B., Grassi-Oliveira, R., & Salles, J.F. (2014). Do socioeconomic status and stress reactivity really impact neurocognitive performance? Psychology Neuroscience, 7, 567-575.
Taylor, H.G., Dietrich, A., Nuss, K., Wright, M., Rusin, J., Bangert, B., …, & Yeates, K.O. (2010). Post- concussive symptoms in children with mild traumatic brain injury. Neuropsychology, 24(2), 148-159.
Yeats, K.O., Taylor, H.G., Walz, N.C., Stancin, T. & Wade, S.L. (2010). The family enviromenment as a moderator of psychosocial outcomes following traumatic brain injury in young children. Neuropsychology, 24(3), 345.

Ana Luiza Dias Piovezana
Neuropsicóloga e Psicóloga Clínica
CRP – 06/90136
• Psicóloga UNESP
• Neuropsicóloga USP
• Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem UNESP
• Atuação em psicologia clínica e neuropsicologia